— O potencial está com vocês (Brasil), mas precisa ser trabalhado de forma que alguns riscos possam ser reduzidos.

A frase do Rustemberg, que já atuou em projetos no Brasil e no Oriente Médio, tem relação com a necessidade de regulação e investimentos de infraestrutura. Segundo o CEO da RWC, restrições de legislação são o principal entrave para que o país ainda não ocupe um papel de destaque para o qual as fontes naturais o credenciam.

Na comparação, a Alemanha, por exemplo, que enfrenta neste momento uma crise energética pela dependência do gás natural vindo da zona de conflito entre Rússia e Ucrânia, lidera um grupo de países (com Irlanda, Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Bélgica, França, Noruega e Luxemburgo) num ambicioso projeto de usinas eólicas offshore no mar do Norte.

Anexação

O engajamento no país é tamanho que no ano passado os ministérios da Economia e do Meio Ambiente foram anexados e, agora, formam o Ministério Federal para Assuntos Econômicos e Proteção Climática (BMWK, na sigla em alemão) — há ainda o Ministério das Finanças. Uma das explicações, conforme afirmou o titular do BMWK ao portal local Deutschland.de, durante a feira de Hannover, é o entendimento de que a nova economia não está mais ligada à pauta ambiental, “ela é a própria sustentabilidade”. Outra é a necessidade de participação dos governos com financiamentos públicos. Por essa razão, desse órgão, nasceu, em 2023, o primeiro subsídio para as exportações de hidrogênio verde do mundo.

Em busca de cooperação com o maior porto da Europa

No dia 10 de maio do ano passado, o maior porto europeu, em Rotterdam, na Holanda, anunciava que pretendia fornecer 4,6 milhões de toneladas de hidrogênio para o continente e que a maior parte teria origem nas importações. Na próxima terça-feira (9), representantes do governo gaúcho e da Portos RS estarão no terminal para assinar um acordo de cooperação.

Cristiano Pinto Klinger, presidente da Portos RS, que estará na missão, afirma que a ideia é trocar experiências, mas a atuação conjunta em mercados também está no radar do governo do Estado. Conforme a titular da Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) no RS, Marjorie Kauffmann, até o próximo dia 11 estão agendadas visitações a projetos na Holanda, além de participação em uma feira específica para o segmento de H2V.

A ideia é de que exportações ocorram independentemente das plantas offshores, mas com a capacidade já instalada de energia limpa no Estado, que tem um mix entre eólica, solar e hídrica que garante mais de 80% da matriz gaúcha formada por fontes renováveis.

Registros

De acordo com relatório da Sema, há no Rio Grande do Sul 63 projetos em 31 municípios com registro de licenciamento ambiental junto à Fundação de Proteção Ambiental do Estado (Fepam) com 18,3 gigawatts (GW) de potência e investimentos na ordem de R$ 11 bilhões. Há ainda o projeto do Parque Eólico Coxilha Negra, com 302 megawatts (MW), com licença de instalação concedida pelo Ibama, e com a instalação executada pela CGT Eletrosul/Eletrobrás, em Santana do Livramento.

O Rio Grande do Sul conta, atualmente, com 1.836 MW instalados em 80 parques eólicos, distribuídos em nove municípios com 1.778 MW em operação.

A situação deixa o Estado com 7,7% da potência eólica instalada no Brasil.

Entenda o que é hidrogênio verde

É a denominação para o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água, com baixa ou nula intensidade de carbono, com uso de energias limpas e renováveis. Significa que sua obtenção é sem emissão de CO2.

A eletrólise é um processo que utiliza a corrente elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio da molécula de água (H2O). O método demanda alta quantidade de energia elétrica, o que torna essencial que a fonte dessa energia seja limpa e renovável – caso, por exemplo, a solar, a hídrica ou a eólica. O hidrogênio pode ser usado para armazenar energia renovável produzida em períodos de alta produção e baixa demanda por energia elétrica.

Qual a importância do hidrogênio verde?

É considerado o combustível do futuro por ser fonte energética renovável, inesgotável e não poluente, que pode trazer muitos benefícios para o ambiente e a humanidade. Para ser considerado verde, é imprescindível que o hidrogênio seja produzido e transportado sem o uso de combustíveis fósseis ou qualquer outro processo prejudicial ao ambiente. É considerado um combustível fundamental para que aconteça a transição para uma economia de baixo carbono.

A grande versatilidade do hidrogênio permite seu uso em nichos de consumo difíceis de descarbonizar, como o transporte de carga, a aviação e até o transporte marítimo. Depois de produzido, o hidrogênio pode ser transportado e armazenado como gás (podendo, inclusive, aproveitar infraestruturas já existentes de transporte de gás natural), como líquido ou absorvido em materiais. A grande opção de fontes e processos de produção, transporte e armazenamento do hidrogênio, possibilita sua adequação ao uso final. Permite, também, que cada país explore o seu potencial e escolha o melhor caminho técnico, econômico e ambiental, considerando a realidade local. Seu armazenamento seguro e os custos competitivos, bem como a tecnologia de transporte, são questões fundamentais para ampliar sua produção e o seu uso.

Quais as atuais vantagens e desvantagens do hidrogênio verde?

Como ponto favorável, destaca-se o fato de ser totalmente sustentável: não emite gases poluentes na produção e nem durante a combustão. É armazenável (o que permite sua utilização posterior em diversos setores e em momentos diferentes ao de sua produção) e versátil (pode ser transformado em eletricidade ou combustíveis sintéticos e ser usado com fins comerciais, industriais ou de mobilidade).

Outras vantagens do H2V: não é tóxico; é o elemento mais abundante no universo; tem grande densidade energética; produção silenciosa (não aumenta poluição sonora) e pode suscitar ganhos econômicos significativos. Isso estimula o desenvolvimento regional e gera novos postos de trabalho e mais renda para o país. Entre as desvantagens que precisam ser aprimoradas em meio ao desenvolvimento tecnológico, estão o alto custo de produção (que vem se reduzindo a cada ano), a grande quantidade de energia investida (energia necessária para separar a molécula da água, a eletrólise) e a necessidade da atenção com relação à segurança, pois o hidrogênio é muito volátil e inflamável (exige requisitos de segurança para evitar fugas e explosões).

 Fonte: Gaucha ZH

Publicado em: 05/05/2023