RS busca ser protagonista na produção de hidrogênio verde
maio 7, 2023
Estado detém um terço dos projetos eólicos em alto-mar do país e aguarda normas para destravar investimentos de R$ 880 bilhões
Na economia mundial não se fala em outro assunto. O tema do momento é o hidrogênio verde (H2V), a energia renovável que desponta para conduzir a transição da atual matriz fóssil, poluente, para uma em que as fontes limpas, sem emissão de CO2 (gás carbônico), sejam predominantes.
O principal apelo vem dos setores em que a demanda por eletricidade é mais intensiva, razão pela qual a maior feira de tecnologia industrial do planeta, realizada em Hannover, na Alemanha, no final do mês passado, foi dominada por essa pauta. E o Rio Grande do Sul não quer ficar de fora das movimentações de cenário. Para isso, conta com algumas cartas na manga e a intenção de protagonizar o processo no país.
Recentemente, o governo estadual apresentou um planejamento, encomendado a uma consultoria internacional, para elencar as oportunidades. A ideia é de que com os investimentos necessários, cerca de R$ 62 bilhões, possam ser agregados à economia gaúcha. Significaria acréscimo de 11% sobre o atual Produto Interno Bruto (PIB).
Antes, é necessário destravar o potencial eólico, considerado o diferencial do Rio Grande do Sul, uma vez que a produção do H2V consiste em separar o hidrogênio da água com o uso de uma corrente elétrica vinda de energia limpa, caso da gerada pelos ventos ou a solar, por exemplo.
A forma mais eficiente e também a que depende de níveis elevados de investimento é a offshore (em alto-mar), pois conta com ventos constantes, mas nem sequer está regulamentada no Brasil. Um projeto de lei, o PL 576, de 2021, tramita no Congresso com o objetivo de regrar a exploração e o desenvolvimento desse tipo de geração.
Enquanto isso, o Estado já contabiliza 22 projetos em análise no Ibama, quantidade idêntica à do Ceará, que anunciou investimento de R$ 42 milhões em uma usina com previsão de operar em 2023.
Apesar de maior visibilidade de empreendimentos estimados para o Nordeste, sobretudo, em razão do Centro de Desenvolvimento de Exportação, no porto de Suape, em Pernambuco, com investimento estimado em US$ 100 milhões e que esteve nos centros das atenções em Hannover, o RS não está atrasado.
É o que garante a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marjorie Kauffmann, ao afirmar que, diferentemente de outras unidades da federação, o Rio Grande do Sul é o único que, além da demanda externa, oferece melhores condições de infraestrutura e potencial de consumo interno para subprodutos do H2V, caso da amônia (para fertilizantes) ou do metanol (para o biodiesel).
Ela ressalta que há áreas no distrito industrial, em anexo ao porto de Rio Grande, com vocação para a instalação de empreendimentos. Outro destaque: o Estado é o único que possui estudo técnico com padrões internacionais, capaz de dar previsibilidade e opções de demanda para o mercado interno aos interessados.
— Não vamos perder para Suape (o porto de Pernambuco). Vamos puxar a fila do hidrogênio verde no país — garante Marjorie.
Potencial
Não é coincidência que, no Rio Grande do Sul, esteja um terço dos 74 projetos nacionais no aguardo da regulamentação federal. E os valores impressionam. Juntas, as intenções de investimentos em parques offshore gaúchos somam R$ 880 bilhões.
Algumas justificativas para o volume: antes de instalar uma turbina em alto-mar é feita análise complexa dos ventos em plataforma fixa dentro do oceano, e apenas uma pá tem o tamanho de um A-380, o maior avião em atividade no planeta, que mede 72 metros e custava mais de US$ 432 milhões antes de ser descontinuado por sua fabricante, a Airbus, conforme explica Bruno Tersatti, gerente de tecnologia e diretor de negócios do Senai-RS.
Para se ter uma ideia, a consultoria estratégica alemã Roland Berger considerou, no início deste ano, que o Brasil irá liderar as vendas globais de hidrogênio e que o mercado nacional atingirá US$ 150 bilhões por ano, dos quais US$ 100 bilhões virão das exportações. Entre as razões, está a abundância de recursos hídricos.
Outra projeção, desta vez da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indica que 40% da demanda europeia por energia, até 2030, pode ser suprida pela produção brasileira. A ressalva: isso só irá ocorrer se a totalidade do potencial eólico offshore para o H2V for, de fato, colocada em funcionamento.
Necessidade de regulação e recursos em infraestrutura
Bernd Rustemberg, CEO da RWC, uma consultoria alemã fundada em 1994 e hoje especializada em questões que envolvem recursos hídricos e energias renováveis, assistiu, em Hannover, a um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que buscava investidores para projetos voltados ao hidrogênio verde. Embora tenha gostado do que viu, fez um alerta: