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FT: Incidente no Canal de Suez acelerará mudança nas cadeias globais de fornecimento

março 31, 2021


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O bloqueio do Canal de Suez acelerará um afastamento global das cadeias de fornecimento “just-in-time”, afirma o presidente da maior linha mundial de navios de transporte de contêineres. Soren Skou, presidente executivo da AP Moller-Maersk, disse ao “Financial Times” que as empresas já vinham mudando suas cadeias de fornecimento por causa da pandemia de covid-19, afastando-se dos fornecedores individuais e repensando sua dependência do “just-in-time” — sistema em que os componentes são entregues às fábricas só quando elas precisam deles.

Em vez disso, as companhias estão partindo para as cadeias de fornecimento “just-in-case”, mantendo estoques muito maiores para evitar serem pegas desprevenidas por interrupções.

“Estamos caminhando para uma cadeia de fornecimento just-in-case, e não apenas just-in-time. Esse incidente [no Canal de Suez] fará as pessoas pensarem mais em suas cadeias de fornecimento”, acrescentou Skou.

O Ever Given, o navio de contêineres que ficou encalhado no canal na semana passada, é um dos maiores do mundo, capaz de transportar 20 mil contêineres. Depois de seis dias, equipes de resgate conseguiram desencalhar o navio, desbloqueando uma das mais importantes rotas comerciais do mundo.

A Maersk possui dezenas de navios entre os centenas que tiveram suas viagens atrasadas pelo bloqueio do canal e redirecionou 15 deles para contornar a África do Sul, acrescentando cerca de 10 dias às suas viagens. Ela também estava considerando usar o transporte aéreo de cargas para entregar componentes considerados cruciais para os clientes.
O grupo dinamarquês é um líder do comércio mundial, responsável por um quinto transporte marítimo de cargas do mundo, atuando para muitas das maiores companhias do planeta, como H&M, Nike e Unilever.

Muitas empresas estão repensando seus sistemas de fornecimento depois que os “lockdowns” causados pela pandemia levaram a interrupções nas cadeias de fornecimento “just-in-time”, quando elas subitamente não puderam receber certos componentes.

“O quanto você quer ser just-in-time? É ótimo quando isso funciona, mas quando não funciona você perde vendas. Não há economia de custos com o just-in-time que consiga compensar o lado negativo de perder vendas”, disse Skou.

Ele acrescentou que as empresas também estão buscando não depender mais de um único fornecedor, uma decisão que poderá ajudá-las a economizar “os últimos cinco centavos sobre um componente”. “Claramente vemos nossos clientes afirmando que precisamos ter vários fornecedores para garantir que um pequeno subfornecedor não acabe nos fechando.”

Muitos analistas de cadeias de fornecimento concordam que os fabricantes e comerciantes estão mudando para um modelo “just-in-case”, mas apontam para o fardo de se manter estoques extras de fornecedores com problemas de disponibilidade financeira, de setores duramente atingidos.

“Se a covid fez algo, foi drenar caixa”, diz Paul Adams, diretor da consultoria Vendigital.

Os preços dos fretes subiram nos últimos meses, com as empresas em todo o mundo buscando reforçar seus estoques, após terem sigo surpreendidas pela força da recuperação da demanda por bens no fim de 2020. Skou diz que isso continuará nos próximos meses.

“Os varejistas pararam de comprar no segundo trimestre de 2020 e agora estão tentando refazer os estoques ao mesmo tempo em que há uma demanda muito forte. O ciclo de reposição de estoques prosseguirá por um tempo”, afirmou.

O presidente da Maersk disse que os preços dos fretes também deverão aumentar mais por causa do congestionamento provocado no Canal de Suez. David Kertens, analista da Jefferies, estima que as empresas de transporte de contêineres ganharão mais dinheiro nos três primeiros meses de 2021 do que em todo o ano anterior.

 

Fonte: Portos e Navios

Publicada em: 29/03/2021


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